POEMA DO JORNAL
O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensanguentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A pena escreve.
A polícia dissolve o meeting.
O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensanguentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A pena escreve.
A polícia dissolve o meeting.
Vem da sala de linotipos a doce
música mecânica
Eis um bom exemplo para nos
lembrarmos das linguagens conotativa e denotativa, dizendo que, a princípio, a
primeira se identifica com a linguagem poética. O título nos remete para o
jornal e seu discurso objetivo, voltado para a informação, portanto, trata-se de
um texto que se deseja compreensível e, de preferência, da mesma forma por
todos. Já a poesia nem sempre se quer compreendida e,se o for, não o será de
formas diferentes por diferentes leitores.
Na primeira estrofe, há
quatro versos que correspondem a manchetes de primeira página. Com exceção da
conjunção “e”, não há conetivos. Os versos se sucedem curtos e informativos. Só
no último verso aparece a metáfora “a doce música mecânica”, com sutil
oposição entre doce e mecânica.Aqui temos a “intervenção poética” do autor em
um texto basicamente denotativo.
Queremos mostrar com isto que
às vezes basta uma metáfora (mudança de sentido, pois linotipos não produzem
música) para criarmos um poema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário