domingo, 6 de maio de 2012


Toada do Amor


E o amor sempre nessa toada!
briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.

Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?

Mariquita, dá cá o pito,
o teu pito está o infinito.






    Ainda que saibamos que no século o uso de figuras diminui muito, havendo até poetas de linguagem praticamente denotativa, há conotação não desapareceu. Não vamos metaforizar como no século XIX, mas não vamos impor o fim da metáfora, pois isto também seria falso.

   Reparemos aqui no segundo verso um “quiasmo”. Apesar do nome, é fácil entendê-lo.


Quiasmo

Figura de retórica baseada na simetria que é construída com quatro termos, dois dos quais geralmente repetidos, e sendo os dois últimos da mesma na natureza que os dois primeiros, mas apresentados invertidamente. O quiasmo dispõe os termos como num espelho e por isso é frequentemente representado por uma cruz ou pela sequência ABBA, como se pode exemplificar com os seguintes excertos:

"Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A benção como espada,
A espada como benção!"

(Fernando Pessoa, Mensagem, "Os castelos", D. Afonso Henriques)

  
   
Ainda no seguinte exemplo, cada verso é iniciado por uma retoma do sintagma nominal do verso anterior, mantendo a estrutura sintática invertida, desdobrada em espelho, com a sequência SN (sujeito) + Verbo copulativo + SN (predicativo do sujeito):

"Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos.
E os meus pensamentos são todos sensações."
(Alberto Caeiro, O guardador de rebanhos, IX)
 


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.    No texto simples de Drummond, com linguagem coloquial, o uso de uma figura de retórica serve para mostrar a alternância  do sentimento amoroso e, portanto, melhor defini-lo.

Marcus Vinicius Quiroga

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