quinta-feira, 5 de julho de 2012


NOTÍCIAS

Entre mim e os mortos há o mar
e os telegramas
Há anos que nenhum navio parte
nem chega. Mas sempre os telegramas
frios, duros, sem conforto.

Na praia, e sem poder sair.
Volto, os telegramas vêm comigo.
Não se calam, a casa é pequena
para um homem e tantas notícias.

Vejo-te no escuro, cidade enigmática.
Chamas com urgência, estou paralisado.
De ti para mim, apelos,
de mim para ti, silêncio.
Mas no escuro nos visitamos.

Escuto vocês todos, irmãos sombrios.
No pão, no couro, na superfície
macia das coisas sem raiva,
sinto vozes amigas, recados
furtivos, mensagens em código.

Os telegramas vieram no vento.
Quanto ao sertão, quanta renúncia atravessaram!
Todo homem sozinho devia fazer uma canoa
e remar para onde os telegramas estão chamando.

Carlos Drummond de Andrade



 Neste poema Drummond, na sua fase de “participação social”,  trata da solidariedade. A circunstância da época era a segunda guerra mundial e alguns países da Europa precisavam da ajuda efetiva de outros continentes para fazer frente às ações de destruição da aliança nazi-facista.
   Os dois simbólicos versos do final sugerem a mobilização de todos para cooperarem com os que estão precisando.



 Exercício: Pense em uma situação atual em que seria necessário também a colaboração dos outros e faça uma poema de temática social. 

 


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